segunda-feira, 30 de julho de 2012

A fenomenologia como caminho


Merleau-Ponty é um pensador central para se compreender a filosofia do século XX. Há uma brusca ruptura com a inauguração da sua filosofia, o discípulo da filosofia husserliana se destaca por seus estudos do corpo e a relação com a ciência. Merleau-Ponty dialoga com a cultura, a história, a experiência vivida, a linguagem, a arte e a ciência, temas inseridos pelo autor ao longo da sua trajetória filosófica. As principais preocupações do filósofo se davam pela problemática relação do homem com o mundo e pela perplexidade de uma filosofia que se propõe a reelaborar uma visão de mundo. A fenomenologia como um estilo de pensamento se coloca para Merleau-Ponty como a procura pelo sentido do sujeito no mundo. Dado que o filósofo enfatiza a existência do sujeito no mundo, a experiência humana é o cerne da sua redução fenomenológica.
A filosofia merleau-pontyana se caracteriza fundamentalmente pela crítica ao humanismo. Sua reflexão se origina a partir da obra Fenomenologia da percepção, os ensaios escritos pelo autor são obras que remontam os temas que revelam desde uma crítica política apoiada na teoria marxista a uma investigação ontológica. À luz da arte, do cinema, da pintura e da literatura, O visível e o invisível é um dos primeiros trabalhos publicados pelo autor. E Sinais é uma das obras que marca a passagem do filósofo de uma perspectiva fenomenológica para um estudo ontológico.
Na esteira do pensamento husserliano, tal filosofia influenciada pelo racionalismo cartesiano, Merleau-Ponty encara o cogito como algo posterior ao mundo pré-reflexivo. O ser corporificado é o sujeito no mundo que vê as coisas no mundo como um todo. Em contrapartida ao pensamento cartesiano, Merleau-Ponty enfatiza o “Ser atual”, o ser presente, o qual é indiviso e imanente. O ser que me faz ser vidente e visível, que faz parte do mundo e que anima o meu corpo. Nesse sentido, a noção de sujeito na filosofia merleau-pontyana é reelaborada para colocar o “ser-no-mundo” enquanto carne, enquanto parte desse mesmo mundo.
As primeiras obras de Merleau-Ponty mostram uma filosofia vinculada ao pensamento husserliano que ao longo de sua construção, se encaminha para um viés ontológico trazendo como primado o mundo pré-reflexivo. Numa filosofia em que a fenomenologia e o existencialismo se mostram bem entrelaçados, ele se aproxima de Husserl quando toma o Lebenswelt como ponto de partida de sua filosofia. O retorno ao mundo da vida é para Merleau-Ponty, a contribuição mais importante da filosofia husserliana. O autor se distancia de Husserl ao passo que minimiza o papel da consciência enquanto constituinte e atribui ao corpo uma dimensão sensível, papel que Husserl atribuíra ao sujeito transcendental. O logos do mundo sensível está nas origens da reflexão e ele subjaz todas as experiências do sujeito no mundo.
            O termo epokhé para Merleau-Ponty não é o distanciamento total do mundo vivenciado. Cada sujeito tem suas experiências no mundo e essas são possíveis somente no tempo e no espaço. O sujeito é “encarnado” ou “incorporado”, desse modo, a subjetividade humana é necessariamente corporificada. Nesse sentido, Merleau-Ponty traz uma redução que radicaliza a facticidade do ser heideggeriano e adentra o campo da experiência. Parte do Dasein para elaborar uma redução fenomenológica que, com o “espanto” diante do mundo, tem uma nova visão filosófica mediante a “volta às coisas mesmas”.
            O pensamento de Merleau-Ponty obteve grandes alcances, nos estudos sobre a percepção, a psicologia, a política e a arte, ademais, é uma nova perspectiva fenomenológica que enfatiza a temática da experiência. Uma filosofia que coloca a existência como ponto de partida para se compreender a relação do homem com o mundo, que põe em suspenso a ciência e a produção de conhecimento para redescobrir as raízes do pensamento. A filosofia de Merleau-Ponty quer no “espanto diante do mundo”, trazer a redução para a dimensão da experiência do sujeito.

"Que é Fenomenologia?", pergunta Merleau-Ponty. "É o estudo das essências', é uma "filosofia que recoloca as essências na existência'; "uma filosofia para a qual não se pode compreender o homem e o mundo senão a partir de sua facticidade"; "é uma filosofia transcendental" que coloca entre parênteses, para se compreendê-las, as afirmações da atitude natural; mas é também a filosofia para à qual o mundo é sempre "déjà lá" antes da reflexão. É além disso, "a tentativa de uma descrição direta de nossa experiência tal como é, sem levar em conta a sua gênese psicológica e as explicações causais do cientista. (Newton Aquiles, Fenomenologia e Existência: Uma Leitura de Merleau-Ponty p. 01)

            Desse modo, pensar na experiência fenomenológica do sujeito é necessariamente pensar em meio às noções exploradas pelo filósofo francês. Tema central na filosofia de Merleau-Ponty, a experiência é um aspecto sem o qual as noções de mundo, facticidade, intencionalidade, sensação e percepção não poderiam ser compreendidas. A experiência do sujeito tem como papel na fenomenologia merleau-pontyana, representar a extensão do que é o “ser-no-mundo”. Para se compreender esse pensamento, se torna fundamental tratar da relação do homem com o mundo e como ele cria consciência do mesmo. A experiência fenomenológica do sujeito faz uma volta ao mundo prévio, do qual “o conhecimento sempre fala”, "A verdade não habita o 'homem interior', ou antes, não há homem interior, o homem está no mundo e é no mundo que ele se conhece". (Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção)


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